terça-feira, 30 de março de 2010

NO ANO DAS ELEIÇÕES COLLOR PEDE DESCULPAS AOS BRASILEIROS

Entrevista

Collor pede desculpas pelo confisco

Vinte anos depois de haver decretado o bloqueio da poupança, o ex-presidente e hoje senador Fernando Collor de Mello (PTB-AL) afirma que agora não tomaria aquela medida, mas defende com vigor a política macroeconômica que implantou. Collor atribui sua queda à ação dos grandes empresários.


Fernando Collor conta que escreveu um livro sobre seu período na Presidência da República, mas não sabe quando irá publicá-lo
Peço desculpas, as mais sentidas e as mais humildes, aos brasileiros que passaram por constrangimentos, traumas, medos, incertezas e dramas pessoais com o bloqueio do dinheiro. Lamento que tenha acontecido. Hoje, não faria de novo." Assim o senador Fernando Collor (PTB-AL) fala hoje do empréstimo compulsório que deixou o equivalente a apenas 50 mil cruzados novos nas contas correntes, cadernetas de poupança e demais investimentos em 16 de março de 1990, dia posterior à posse do primeiro presidente eleito por voto direto depois de 20 anos.

– Mas a minha agenda macroeconômica prevalece até hoje, quebrou tabus como a abertura da economia, a Lei da Informática, as reservas de mercado, as privatizações, o não calote da dívida externa. Tudo isso era parte do plano de estabilização, mas hoje só falam no bloqueio do dinheiro – lamenta.

O hoje senador, que renunciou à Presidência em dezembro de 1992, na reta final do processo de impeachment que sofreu, garante que sua queda se deve ao grande empresariado, que não aceitou a perda de privilégios, de reservas de mercado e não absorveu a competição com produtos estrangeiros decorrente da abertura de mercado.

– Minha queda começou na Avenida Paulista, ainda em 1990, pouco tempo depois da posse – disse Collor, que tem pronto um livro em que conta detalhes de todo o período, conversas e conspirações, mas não sabe ainda quando será lançado. O ex-presidente Fernando Collor conversou com a Agência Senado e a Rádio Senado.

Em que momento da campanha o senhor começou a montar uma equipe, elaborar o Plano Brasil Novo, com uma inflação já de 84% ao mês?

FC – Desde a campanha, sabíamos que os problemas na economia que iríamos enfrentar eram de uma magnitude nunca vista no Brasil do século passado. Por isso, pensamos em um plano que aproveitasse os erros e acertos do Plano Cruzado, para ter chances de êxito. Quando a candidatura começou a ganhar musculatura, iniciamos a preparação do programa de governo, que teve a coordenação da economista Zélia Cardoso de Mello.

O senhor já tinha ideia, durante a campanha, do que iria fazer depois de eleito?

FC – Sem dúvida. As contas públicas estavam absolutamente deterioradas, tudo estava indexado em uma ciranda realimentadora da inflação absurda, a dívida externa era insuportável, as reservas em moeda estrangeira estavam zeradas. Mas o pior de tudo era a inflação, que impedia qualquer planejamento, tanto de governo quanto da vida das pessoas comuns. (...) Era tabu, era proibido no país falar em abertura da economia, no fim das reservas de mercado como o da informática. (...) Diziam que a dívida externa não deveria ser paga, porque era ilegítima, fora contraída de forma irregular. Diziam que o Brasil deveria romper com o FMI. Tanto que o nosso programa, em entrevistas e debates, era o oposto dos outros candidatos. Nós já falávamos em estado menos pesado e mais eficiente, em abertura da economia. O único ponto em comum que todos tínhamos, e era um consenso na sociedade inteira, era a urgência de vencer a inflação. O resto eram falsos dilemas, que foram desmoralizados e não são levados mais a sério, o que demonstra que, há 20 anos, nossa visão estava correta. Infelizmente, não coube a mim estabilizar a economia, mas as bases, a semente do Plano Real, foram lançadas com a nossa agenda macroeconômica.

E como se chegou à ideia de bloquear o dinheiro, os ativos financeiros, e como o senhor recebeu a ideia?

FC – Todo presidente aprende com o antecessor, tanto com os erros quanto com os acertos. No Plano Cruzado, vimos que o congelamento de preços foi feito em um momento de liquidez, não excessiva, mas real. E quem tinha dinheiro na ciranda financeira, no overnight, até mesmo quem vivia de salário, correu às compras, para aproveitar os preços congelados. Quem pensava em comprar geladeira, máquinas de lavar e televisão novas, em trocar de carro, em consumir mais, correu às lojas. E a indústria, naquele momento, não estava preparada para repor estoques, para atender à demanda. Veio o desabastecimento, as prateleiras ficaram vazias, as pessoas tinham o dinheiro, mas não tinham o que comprar. A inflação voltou então forte, uma inflação de demanda. Quando tomamos posse, havia ainda mais liquidez, o dinheiro aplicado na ciranda financeira se havia decuplicado, o quadro de dinheiro em circulação era incontrolável e a moeda valia cada vez menos. Vimos, então, que um dos pressupostos básicos para estancar o processo era um novo congelamento de preços. Mas não podíamos fazê-lo com todo aquele dinheiro disponível em bancos, em aplicações financeiras.

E aí veio a ideia do bloqueio do dinheiro...

FC – No início, pensamos apenas em bloquear por tempo determinado os títulos ao portador, os títulos da dívida pública, do Tesouro. Mas o mercado, essa coisa intangível, sabe se defender muito bem. Quando então falamos em acabar a inflação com um tiro só, perceberam logo que vinha congelamento. E pensaram: vão congelar, mas não podem incorrer no mesmo erro do Plano Cruzado. Então, o bloqueio do dinheiro será muito mais amplo. E todos começaram a migrar dos investimentos para as contas correntes e para caderneta de poupança, houve até enormes saques em dinheiro. E nós, às vésperas da posse, estávamos monitorando todo esse movimento.

Ainda na campanha, o senhor garantiu que a poupança seria preservada.

FC – Eu nunca afirmei isso. Ao contrário, em um dos debates eu disse que o meu adversário é que iria confiscar as poupanças, justamente para evitar que a pergunta me fosse feita. O fato é que, quando todos da minha equipe viram que as contas correntes e a poupança receberam enormes aportes, concluímos que não bastava bloquear os títulos, não seria suficiente. E posso garantir que todos os candidatos tinham a mesma intenção: o PT, o PMDB... Tanto é verdade que, dois dias depois, economistas e políticos do PT paulista, alguns ex-colegas da ministra Zélia na Universidade de São Paulo (USP), a procuraram e disseram: "Era este exatamente o programa que queríamos aplicar. Só que, no nosso caso, o governo cairia no dia seguinte". Então, todos trabalhavam com essa saída. A grande surpresa foi o volume dos ativos, ninguém esperava tanto. Mas nós precisávamos de um tempo para respirar e dar os passos seguintes, como renegociar a dívida externa, restabelecer a confiança dos credores internacionais, abalada com a moratória de 1987, reiniciar as linhas de crédito e acenar com o programa liberal, mas com preocupações sociais.

E como foi a reação do empresariado brasileiro com a abertura da economia?

FC – A minha queda começou na Avenida Paulista, com a insatisfação dos que perderam suas reservas de mercado, seus privilégios. Mas a indústria brasileira deu um grande salto de produtividade e qualidade depois da abertura da economia. Criamos as câmaras setoriais para analisar cada setor, o que poderia ser feito para lhes garantir competitividade, como enfrentar a competição internacional. Depois da abertura, nossos carros melhoraram, nossos computadores deram um salto de qualidade. (...) Hoje, temos celulares, computadores de última geração, ninguém mais pensa em reservas de mercado, ninguém mais tem medo de privatizações, a dívida externa está equacionada, e o início foi ali, no meu governo


Fernando Collor

Fonte Senado Federal

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